Houve um aumento de 60% em tentativas de golpes financeiros contra idosos durante a pandemia, segundo a Febraban.
"Quando eu descobri que tinham feito um empréstimo no meu nome, fiquei desesperada, chorei muito e quase entrei em depressão", essa é a forma como Maria Nenê Duarte, de 86 anos, conta sobre o fatídico dia em que descobriu que caiu no golpe do empréstimo consignado não solicitado, após se dar conta de que não conseguia mais pagar as despesas com o desconto em folha.
O esquema funciona da seguinte forma: a instituição financeira realiza o pagamento de um valor extra na conta do idoso, que faz saques sem perceber a presença do dinheiro a mais. Depois, começam a ser debitadas as quantias, com juros, do valor emprestado sem o consentimento da vítima.
Dona Nenê recebeu o valor de R$ 3 mil e chegou a passar mais de um ano pagando as parcelas do empréstimo até estranhar que o dinheiro que recebia estava insuficiente para as despesas.
O caso de dona Nenê não é isolado. Segundo um levantamento da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) houve um aumento de 60% em tentativas de golpes financeiros contra idosos durante a pandemia.
Para a advogada e secretária geral da Associação Cearense de Defesa do Consumidor (Acedecon), Patricia Acioly, as consequências desses golpes podem mexer muito com a saúde mental desses idosos.
"Por exemplo, se a gente pensa em um idoso lá do Interior, um aposentado rural. Geralmente, esses senhorzinhos são muito corretos, né? Elas não tiveram seus nomes registrados em cadastros de inadimplência. Então, isso frustra muito quando ele se vê numa situação de superendividamento. Inclusive, esses casos com pessoas mais idosas podem levar, muitas vezes, até a suicídios", destaca.
COMO FUNCIONA O GOLPE
Segundo Patricia Acioly, essa modalidade de golpe, na qual o valor entra na conta do beneficiário, é aplicada há cerca de três anos. Mas se o dinheiro entra na conta do aposentado e é sacado por ele, o que as instituições que agem de má-fé ganham?
"Ganha na questão dos comissionamentos, explica a advogada. "Se antes ele atingia vários idosos tirando todo o empréstimo para ele, ele agora entendeu que uma forma de camuflar isso", acrescenta. Assim, como no caso de dona Nenê, muitas vítimas só se dão conta quando o dinheiro recebido no mês não é mais suficiente para se manter, já que há o desconto do consignado.
Além disso, muitos aposentados, mesmo após perceberem o valor recebido indevidamente, ficam com o dinheiro. "Eles vão com essa de colar, colou. E muitas vezes cola. Então eles vão ganhando em cima desses comissionamentos", destaca.
O QUE É E COMO FUNCIONA O EMPRÉSTIMO CONSIGNADO?
O termo consignado se deve ao fato de que ele é descontado diretamente no contracheque, holerite ou benefício do INSS, sendo o tipo mais comum para funcionários públicos, aposentados e pensionistas.
Na prática, significa que uma parte da renda fica comprometida antes mesmo de o dinheiro chegar na conta do consumidor. No entanto, é preciso se preparar para solicitar o serviço, afinal, isso pode aumentar os gastos com o pagamento de juros, podendo até mesmo levar ao superendividamento.
RECOMENDAÇÕES DO BANCO CENTRAL ANTES DE CONTRATAR UM CONSIGNADO
- Não faça qualquer pagamento adiantado para obter o empréstimo;
- Pesquise e compare as taxas de juros e condições oferecidas por outros bancos;
- Verifique se o banco está autorizado a funcionar pelo Banco Central e se tem convênio com sua fonte pagadora;
- Nunca assine um contrato ou uma proposta de contrato em branco;
- Não aceite a intermediação de pessoas com promessas de acelerar o crédito;
- Não forneça o cartão magnético ou senha do banco a terceiros;
RECOMENDAÇÕES DO INSS ANTES DE CONTRATAR UM CONSIGNADO
- Monitore os valores da aposentadoria e do empréstimo consignado no site Meu INSS;
- Não contrate empréstimos pelo telefone;
- Nunca dê seu CPF nem o número do cartão do INSS para quem quer que seja;
- Leia com atenção cada documento antes de assinar;
- O segurado que se sentir ameaçado pode registrar reclamação na ouvidoria e um boletim de ocorrência na polícia.
Pesquisa, Redação e Edição: Carlos Martins
Da Redação
Fonte: Portal | Diário do Nordeste
Foto: Reprodução